Araújo & Cuozzo (2003), no seu artigo “Taller de Psicomotricidad en niños con dificultades de aprendizaje”, descrevem a prática psicomotora que desenvolvem no serviço de neuropediatria de um hospital com crianças que apresentam dificuldades de aprendizagem (principalmente disgrafia e dislexia).
Organização
Actualmente a intervenção em psicomotricidade, neste serviço, é constituída por dois contextos: um respeitante às actividades de sala e outra respeitante às actividades de atelier (actividades de manipulação e representação).
A intervenção é feita de forma grupal (2 a 6 crianças), mantendo os mesmos dias, horários e técnicos, em sessões de 45 minutos. Os resultados são mais favoráveis quando o tratamento acontece quando as crianças realizavam uma só vez por semana as sessões (sala e atelier) uma depois da outra. Uma vez que neste casos o atelier oferece um lugar de distanciação, já que este é um espaço que permite integrar as emoções que foram vividas na sala. Desta forma, o atelier que se desenvolve não contradiz a metodologia do trabalho em contexto de sala, e sim, busca a continuidade, proporcionando-lhe ao indivíduo outras experiências com o fim de favorecer ao máximo as suas potencialidades. Tenta-se brindar as crianças com um ambiente adequado onde são estimulados a criar e a pensar, a explorar e a experimentar os diferentes materiais e propostas, progredindo de acordo com o próprio ritmo.
Metodologia
A metodologia adoptada parte da base de que o psicomotricista deve estar, como diz Ancontorier “à escuta do outro, aceitando e recebendo os conteúdos, formas e sentidos da expressividade psicomotora”. A criança é abordada neste espaço diferente, promovendo desequilíbrios que ponham em funcionamento processos de acomodação e assimilação, respeitando a globalidade e a individualidade de cada um. Considera-se fundamental o vínculo que se estabelece entre a criança e o psicomotricista, que possibilita a aceitação e o desfrute do trabalho neste espaço.
É de salientar que a intervenção em psicomotricidade se encontra coordenada com as outras terapias e tratamentos, num trabalho interdisciplinar desenvolvido desde o diagnóstico.
Tipo de Intervenção
Na abordagem com crianças disgráficas ou disléxicas, o primeiro objectivo a trabalhar neste atelier é desbloquear a comunicação, abordando a criatividade e a livre expressão.
Esta etapa permite ajudar a criança a conseguir um melhor ajuste tónico-postural nas actividades de sala. As propostas nesta primeira instância (que depende em duração de cada criança e do grupo), centram-se no uso e na manipulação de instrumentos e materiais como massa, argila, cerâmica, pinturas, pincéis, folhas de diferentes tamanhos, texturas e cores. Para além das actividades com esses materiais são também aplicadas as técnicas pictográficas e escriptográficas do tipo que Ajuriaguerra descreve no seu livro Reeducação da Escrita. Todas estas actividades, como já foi dito, estão direccionadas para abordar a parte comunicativa e expressiva bem como o controlo tónico-emocional.
Nas próximas abordagens isto passa a ser complementar, e o central é a abordagem das alterações perceptivo-motoras, perceptivo-visuais e da praxia construtiva, incidindo positivamente na sequencialização e organização espacial, funções estas que estão frequentemente associadas às dificuldades de aprendizagem da leitura e da escrita. Nesta etapa utiliza-se material fotocopiado do tipo dos manuais de Frostig e semelhantes (sopas de letras, labirintos, diferenças), jogos de caixa (de memória, dominó), puzzles, jogos de construção, cópias de figuras, e traçado de figuras geométricas com régua e compasso. Aborda-se também a componente motora da escrita, procurando que esta se converta numa ferramenta prazerosa de expressão e comunicação, de fácil uso para criança, com letra legível, com pouco esforço e velocidade adequada, sem que origine cansaço e dor. Para isto, combinam-se as técnicas anteriormente referidas com técnicas escriptográficas. Também se introduz o trabalho sobre a execução de cada letra, direccionalidade, traçado, forma das letras, o que seja necessário para melhorar a qualidade da escrita, em geral. Utiliza-se um caderno para cada aluno, de modo, a permitir ordenar temporalmente os trabalhos, acedendo com naturalidade ao material pretendido. A selecção do material a incluir no caderno realiza-se com base nos objectivos e estratégias delineadas para cada aluno. Muitas vezes usa-se a caderno como uma continuação do trabalho em casa, procurando assim a participação e o interesse da família em actividades gráficas de fácil resolução pela criança, ou seja, pretende-se criar um momento em família em que se possam partilhar os êxitos da criança e que estes sejam reconhecidos pela sua família. O caderno contém, ainda, um contrato de trabalho que inclui o “fazer com vontade” para que realmente seja prazeroso e que a criança não se sinta obrigada a fazer se não sente disposição para tal. Isto também é falado com os pais para que se evitem situações de pressão familiar.
Resultados
Avaliando os resultados, pode-se dizer que este tipo de intervenção psicomotora permite que em pouco tempo, as crianças adquiram uma maior fluidez na escrita, aumentando a velocidade e vencendo paulatinamente o aumento do tónus ao escrever. A qualidade da escrita é mais difícil de mudar e depende da idade da criança, uma vez que quando se inicia o processo de personalização da letra há elementos que não se podem modificar. No entanto, pode-se afirmar que a escrita se torna legível, atingindo assim o objectivo principal, que é fazer da escrita uma ferramenta de comunicação. Um outro elemento que se modifica rapidamente é também o stress que esta actividade cria na criança, desdramatizando a situação e conseguindo uma maior motivação.
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