terça-feira, 6 de abril de 2010

Sintomas da Disgrafia



Gordilho (1988), no seu livro “La disgrafia escolar. Escala disgráfica e tratamientos correctivos”, apresenta os principais sintomas disgráficos, respeitantes a incorrecções no traçado dos grafismos.

- Letras irreconhecíveis
É possivelmente a característica com maior incidência na disgrafia. A aparição de diversas letras não identificadas num texto determina a ilegibilidade do mesmo.

- Grafismos que permitem a confusão de letras
A criança realiza um grafismo muito ambíguo que leva à confusão de uns grafemas com outros. Podem surgir estas disgrafias por atrofia ou hipertrofia dos bastões das letras (h, n, p), a desaparição das arcadas (u, n, p, m, h), a eliminação de “caracóis” (b, v) ou não realização das regressões (c, a, g, d, o). Esta confusão acontece frequentemente também em outros grafismos (r, n) ou em determinadas combinações de letras (cl, d).


- Confusões originadas pela quantidade
 A criança, como consequência de uma confusão na quantidade de elementos intervenientes, confunde letras ou escreve uns neografismos inexistentes. Acontece quase sempre nos grafemas "n" e "m".


- Grafemas traçados numa direcção inadequada
É possivelmente uma das disgrafias mais frequentes, onde se pode dar todo o tipo de variantes. É uma incorrecção muito comum nos primeiros anos escolares, se bem que remete em alguns casos para o momento em que começam a produzir-se as ligações entre as letras.
 
- Letras sobreimpressas
A criança, ao escrever uma letra em direcção dextrógira sente-se obrigado a continuar o “caracol” para o poder enlaçar com a seguinte letra. Desta forma, tem que ser repassada para permitir a união. Costuma acontecer nos grafemas “o” e “a”, ainda que também seja observado no “d” e no “p”, e mais raramente na letra “e”.  
- Letras com traçados variados
Ao escrever uma letra, o aluno justapõe dois ou mais traços para a completar. Os traços podem aparecer sobrepostos ou isolados. É uma incorrecção frequente, onde a velocidade da escrita fica reduzida. As letras podem perder o seu significado ao ficarem em alguns casos desdobradas. Aparecem com frequência nas letras “a”, “d”, “g”, “p”, “m” e “n”.
 
 - Omissão de “caracóis”
Uma elevada percentagem de alunos omitem nas letras “b”, “v” e “o”, em consequência estes grafemas aparecem desligados. Pode acontecer, inclusivamente no interior de uma palavra com todas as palavras ligadas. Por vezes, principalmente nas combinações “br” e “be”, a omissão de caracóis pode provocar muitas confusões.
- Caracóis excessivos
Costuma acontecer nos grafemas “b”, “v” e “o”. A aparição de bucles excessivos pode provocar certas confusões. Por exemplo, quando o caracol do “o” é exagerado pode transformar-se numa letra completamente diferente, possivelmente a letra “a”.   
- Letras abertas
Pode acontecer nas letras que exijam uma regressão: “o”, “a”, “g” e “d”. O aluno ao traçar as letras reduz o movimento semicircular e fica reduzido a uma ligeira insinuação da curvatura. Deste modo, a forma arredondada fica atrofiada e transforma-se em forma aberta. 
- Letra atrofiada
Pode ser considerada uma atrofia quando o tamanho de uma letra dentro de uma palavra fique tão reduzido que dificulte a sua identificação. Em certas ocasiões a letra atrofiada fica reduzida a um simples giro. Costuma acontecer com muita frequência no grafema “e”.
- Angulações
A angulação forma parte, em muitos casos, de uma escrita pessoal. No entanto, quando a angulação é excessiva pode provocar algumas confusões. Considera-se que existem angulações, não quando não se respeitam as formas arredondadas das arcadas por evolução do grafismo, e sim no momento em que estas se transformem em pontas de lança que dificultem a identificação isolada dos grafemas.  
- Bastões descontínuos
Os bastões estão retocados com o fim de os prolongar. Os traços são descontínuos não por que haja uma incapacidade motora , e sim por erro. O aluno desenha uns bastões atrofiados. No entender do aluno, este estima ser necessário prolongá-las pelo que se faz necessário um agregado.
- Bastões em curva
Os bastões ascendentes que deveriam ser rectos, firmes e seguros estão dobrados quase sempre para trás e em forma de curva.

- Formas inchadas
As letras, que deveriam ser ovais e mais altas que largas, alargam-se na zona média da forma oval, cujo eixo horizontal é maior que o vertical.

  - Abaulamentos
As formas arredondadas das letras apresentam pequenas ondulações  irregulares nos traços ovalados. Os grafemas oferecem aspecto de estar estrangulados, abaulados. As mesmas irregularidades podem aparecer nas arcadas das letras “m”, “n”, “P” e “h” ou nos caracóis exteriores  de alguns grafemas que possuem bastõe como o “l”, “b”, “d”, “f”, “g” ou “j”.


- Tremor
São raros os casos escolares nos que se pode apreciar o tremor; neste as letras oferecem um traço oscilante e irregular: os grafemas parecem tremer. Estes casos costumam estar associados a estados patológicos.

- Letras retocadas
As letras depois de estarem concluídas são rectificadas com pequenos traços para camuflar as suas imperfeições. São frequentes as ligações que exigem regressão ou quando a qualidade da grafia obriga ao aluno a reestruturar uma letra reproduzida imperfeitamente.


- Letras incrustadas
A união entre os grafemas é possível graças à prolongação do primeiro deles. Em ocasiões, os grafemas aparecem justapostos, sem zonas neutras que os diferenciem. Podem encontrar-se vários tipos de incrustações. O mais frequente consiste em unir os grafemas sobreimprimindo -os. Desta forma dificulta-se a percepção das letras ao estar umas sobre as outras. Frequentemente, a incrustação obedece a uma eliminação do caracol ou à carência de uma zona neutra de enlace entre duas letras.


- Colagens
São agregados que o aluno utiliza para unir as letras de uma palavra. As letras são escritas incompletas ou desunidas. Um dos grafemas nos que aparece “colagens” com mais frequência é a “a”. O aluno ao não realizar a regressão, transforma este grifem numa espécie de “u”; posteriormente sente-se obrigado a  fechar o grafema agregando um ligeiro arco na parte superior.

  - Pontos em “x”
Consiste na justaposição das letras cujas ligações se cruzam. As uniões são muito imperfeitas, as letras não ligam e sim justapõe-se produzindo uma cruz. Na realidade não ocorre ligação entre os grafemas. Estes aparecem desligados e a união é tão imperfeita que não chega a coordenar-se os movimentos produzindo-se um característico choque entre o final de um grafema e os elementos de enlace da letra seguinte.

- Pseudouniões
Consiste no enlace das letras por justaposição. Realmente as letras não estão enlaçadas por um mesmo traço, mas sim estão apegadas umas a outras mediante os elementos de enlace. É uma correcção muito frequente, estando presente até entre professores, pelo que devemos ser cautos na hora de atribuir uma disgrafia pela presença exclusiva de pseudouniões.

  - Recheio das letras
Os caracóis de algumas letras, em especial o “e”, estão tão atrofiados que não se percebe o espaço delimitado pelo fecho da curva. O grafismo fica reduzido a um esquemático giro sem nenhum espaço em branco no interior.
- Sacudiduras
São ligeiras prolongações nos enlaces. Aparecem ao tentar estabelecer uma união que se alarga excessivamente. As letras prolongam-se desmesuradamente ao tentar enlaçá-las com as seguintes.
- Tamanho desproporcional das letras
O tamanho das letras é muito grande ou muito pequeno, de acordo com a dimensão média da altura dos grafemas, aproximadamente 2,5 mm. Devemos considerar que o tamanho está relacionado com a idade do aluno, e que, portanto deverá conceder-se uma margem entre dois ou três milímetros. Em alunos de primeiros anos não se considerará esta incorrecção.
- Desproporção entre as zonas gráficas
O alinhamento está dividido em três zonas: média, superior e inferior. Cada corpo tem aproximadamente 2,5 mm de altura. A altura total das letras que ultrapassam as linhas deve ser o dobro do tamanho médio dos grafemas escritos na zona média. Quando os bastões de algumas letras superam a zona superior, considera-se uma hipertrofia, quando não, uma atrofia.
- Desproporção do tamanho das maiúsculas
As maiúsculas devem ocupar a zona média e superior das linhas. Frequentemente produz-se uma atrofia ao reduzir a maiúscula ao tamanho de uma letra normal. Igualmente podem aparecer também algumas hipertrofias fazendo com que o tamanho de algumas maiúsculas superem o triplo da altura de uma vogal.
- Irregularidade na dimensão
Considera-se a presença de irregularidade na dimensão quando a altura das letras varie ao longo da escrita. As totalidades das letras deveriam ter um tamanho parecido. No entanto, temos de considerar como disgráfica uma diferença superior a 1 mm entre a letra maior e a mais pequena de uma palavra. Para considerar este item tem de se comparar sempre as letras da mesma zona gráfica. Quando as letras estejam formadas por bastões, a diferença deve ser superior a 2 mm.
- Letra estendida
Os grafemas são extraordinariamente largos em relação à altura, ainda que guardem uma relativa proporção entre eles. As letras parecem esparramarem-se na linha. Igualmente que na escrita encolhida, esta disgrafia tem que considerar-se só em casos extremos: crianças que com poucas palavras são capazes de ocupar uma linha.
 
- Escrita encolhida
As letras são muito estreitas em relação à altura. A escrita dá a sensação de estar contraída, dificultando a sua legibilidade.
- Separação irregular entre palavras
Os espaços entre as palavras são muito irregulares. Não existe um distanciamento equilibrado entre os vocábulos.
- Palavras apertadas
As palavras parecem estar aglomeradas umas à outras. A distância entre elas é muito pequena. O texto provoca a sensação de amontoamento. Considera-se que a distância entre as palavras deve ser aproximadamente ao dobro de uma vogal.
- Linhas ascendentes ou descendentes
As linhas devem manter certo paralelismo. Quando a inclinação supera os 6º, considera-se que a linha é ascendente ou descendente.
- Linha flutuante
A linha ondula produzindo pequenas subidas ou descidas. É uma incorrecção bastante generalizada.
- Linha quebrada
Considera-se linha quebrada quando a linha baixa e depois sube bruscamente simulando uma linha partida. As palavras parecem estar a bailar cada uma em sua direcção. Em ocasiões, a linha base de uma mesma palavra pode mudar bruscamente de direcção em uma ou em várias ocasiões.
- Espaço irregular entre as linhas
A distância que separa uma linha de outra não guarda nenhuma equidistância. As linhas aproximam-se ou afastam-se de forma irregular. Considera-se a presença de irregularidade entre as linhas quando a distância máxima no início e no fim da linha seja o dobro da separação mínima encontrada nessa mesma página. 
- Ausência de margens
O aluno não respeita as margens ao escrever. Podem surgir problemas tanto com a margem direita como com a esquerda ou com ambas.
- Conjunto sujo
A escrita dá a sensação geral de sujidade. O traçado é sujo, as letras estão retocadas, etc.
- Irregularidades de inclinação
A inclinação dos bastões pode variar tanto para a direita como para a esquerda.

Sem comentários:

Enviar um comentário